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Gestão em SST - NRs - Gestão dos Afastamentos -

A importância das capacitações em segurança como fator de prevenção

01/05/2020

No atual cenário econômico mundial, onde a premissa das empresas é de produzir com o menor custo possível, otimizando processos e insumos e ainda buscando um diferencial competitivo através da inovação, o capital humano, como sempre, é o fator decisivo do processo, pois é ele a força de trabalho inteligente, a fonte de criação de soluções e de ideias que podem melhorar, otimizar e/ou aumentar a produtividade nas empresas. Assim sendo, pensar no sucesso de qualquer empresa é entender que as pessoas compõem a riqueza e o poder dessas organizações, pois são elas que transmitem pensamentos, sentimentos e ações e são capazes de modificar toda a forma de trabalho.

Como o trabalhador é o principal ativo de uma empresa, é importante a consciência e o entendimento dentro dessas organizações, que a capacitação e qualificação profissional, é fator decisivo para o atingimento de metas e objetivos organizacionais, tornando a empresa sustentável ao longo do tempo.

A qualificação e capacitação dos trabalhadores de uma empresa deve envolver a todos os funcionários, desde o profissional de “chão de fábrica”, serventes e auxiliares, até o mais importante executivo da organização. Quando particularizamos o olhar para a qualificação e capacitação dos trabalhadores na temática das áreas de saúde e segurança do trabalho, estamos dando um foco naquilo que deve ser a principal razão em qualquer ambiente de trabalho. O ambiente de trabalho seguro. O ambiente de trabalho seguro proporcionado pela empresa, combinado com qualificação e capacitação dos trabalhadores além das demais ações de gerenciamento de riscos, proporcionam as condições necessárias preventivas de acidentes e doenças do trabalho. 

Segundo informações da Organização Internacional do Trabalho – OIT (2017), o Brasil ocupa o 4º lugar em relação ao número de mortes por acidentes do trabalho no mundo, com 2.503 óbitos ao ano. O país perde apenas para China (14.924), Estados Unidos (5.764) e Rússia (3.090).

  • A cada 48 segundos acontece um acidente de trabalho e a cada 3h38 um trabalhador perde a vida pela falta de uma cultura de prevenção à saúde e à segurança do trabalho.
  • Para cada acidente registrado, 8 não são registrados.
  • Entre 2014 e 2018 foi registrado no Brasil 1,8 milhão de afastamentos por acidente de trabalho e 6,2 mil óbitos. (Previdência Oficial).

Sem dúvida, esses números merecem reflexão, visto que a problemática sobre a questão da segurança e saúde no trabalho perpassa por uma série de fatores e condições de infraestrutura, socioeconômicas e culturais, dentre outras, objeto de estudos dos mais diversos órgãos, públicos e privados, estado e sociedade, pela academia e também pelas empresas. Focamos nesse artigo um viés dessa problemática que trata dos investimentos em capacitação e treinamento dos trabalhadores como fator predisponente à diminuição dos acidentes de trabalho.

As empresas através dos estudos e elaboração dos seus planejamentos estratégicos anuais, provisionam um orçamento específico para a qualificação e treinamento de seus trabalhadores nas mais variadas áreas (operacional, tecnológica, administrativa, gestão etc.). Evidentemente qualquer que seja o tipo de treinamento, o investimento deve estar associado ao preparo para a execução das atividades e tarefas com segurança, garantindo em primeiro lugar que essas atividades e tarefas possam ser realizadas seguindo todos os preceitos preventivos necessários. Percebe-se pouco a pouco, que o empresariado vem entendendo que a relação Custo x Benefício é muito maior e melhor quando existe um investimento forte em treinamento e capacitação. Sempre houve um certo ceticismo em achar que vai capacitar e treinar pessoas e elas depois deixarão a empresa gerando prejuízos financeiros pois não existiria retorno desse investimento. Mas o que seria pior, treiná-las, elas produzirem bem e com segurança e um dia talvez irem embora, ou elas ficarem na empresa, não serem treinadas e capacitadas,  sem produzir o necessário e ainda se acidentarem?  

Sabemos que quando um acidente do trabalho acontece, entendendo que também as doenças do trabalho são consideradas acidentes do trabalho pela legislação, se configura uma situação onde todos os atores da sociedade são impactados.

Vejamos: em primeiro lugar o impacto de uma acidente se reflete diretamente naquele que sofre esse acidente, ou seja, o trabalhador. É ele quem sofre com a dor física da lesão ou doença, é internado, passa por tratamentos etc. isso se, o resultado daquele acidente ou doença não representar o óbito. Em segundo lugar, sofre ou adoece junto com o trabalhador a sua família, pois existe a questão do impacto emocional que esse tipo de situação causa a todos. Além disso, existe também um impacto financeiro, pois com o afastamento (temporário ou definitivo), a renda da família cai de forma muito abrupta gerando consequências sociais grandes a essa família. Em terceiro lugar perde a empresa, visto que ela contrata, treina, capacita e qualifica, além de ter que ir buscar no mercado de trabalho outro profissional para substituir aquele que se acidentou. O custo com o acidente, indenizações e o recolhimento de tributos e obrigações trabalhistas irão onerar a folha de pagamento dessa empresa. Além disso, a imagem da empresa pode ficar arranhada junto aos seus diversos stakeholders (trabalhadores, público em geral, acionistas, investidores etc.), ou seja, o prejuízo é grande.   Em quarto lugar aparece a figura do estado, que também perde, visto que os custos dos benefícios acidentários e aposentadorias pagos pela previdência social são socializados entre todos os Brasileiros.

Apenas a lição aprendida (se aprendida de fato), sobre um acidente para a sua não repetição, é o único ponto em que se pode enxergar um ganho.

Diante de todo o contexto apresentado anteriormente, e dentro da perspectiva do objeto desse artigo que é tratar da importância das capacitações em segurança como fator de prevenção de acidentes, devemos entender que a aprendizagem através de capacitações, treinamentos técnicos e comportamentais visa possibilitar aos trabalhadores, comportamentos, atitudes, posturas e práticas seguras e o desenvolvimento de uma cultura de segurança abrangente e consciente que tenha como consequência a redução dos casos de acidentes e doenças do trabalho. Partindo-se da premissa de um ambiente de trabalho seguro proporcionado pela empresa e através do desenvolvimento de habilidades técnicas e comportamentais para a realização das atividades de forma mais segura, aumenta-se a percepção dos riscos pelos trabalhadores levando-os a tomar as decisões mais assertivas sobre a forma de realizar os trabalhos, minimizando-se assim a probabilidade de tomarem decisões equivocadas influenciados negativamente por fatores psicológicos, cognitivos, sociais e fisiológicos. As empresas preocupadas com o bem estar dos trabalhadores e que já perceberam que a capacitação e treinamento em segurança gera retorno e competitividade, buscam cada vez mais investir nesse tema com o desenvolvimento de programas de capacitação de forma periódica, minimizando assim a probabilidade de ocorrências adversas. É importante salientar também que não se deve ser somente a preocupação das empresas o atendimento e realização de  treinamentos que visem atender a requisitos legais, mas também, treinamentos que busquem trabalhar os aspectos comportamentais no trabalho. Além disso, a qualidade desses treinamentos deve ser objeto de muita atenção da empresas, pois é importante e fundamental a escolha de instituições/empresas e profissionais reconhecidos no mercado, adequação do conteúdo programático e customização do treinamento à realidade daquela empresa. Não investir na capacitação em segurança dos trabalhadores em todos os níveis, não é uma boa decisão como exposto nos parágrafos anteriores.

A redução dos acidentes de trabalho é objeto de preocupação das empresas, trabalhadores, governos e da sociedade como um todo. Grande parte das empresas Brasileiras investe em capacitações de segurança, inclusive exaustivamente, pois reconhecem a importância dessa ação. Entretanto, deve-se salientar que a promoção do ambiente de trabalho seguro e o investimento em tecnologias, máquinas, equipamentos, sistemas de gestão e comportamentos fazem-se importantes na mesma medida.

A educação para a segurança do trabalho é de primordial importância na soma para a geração de um ambiente de trabalho mais seguro, trazendo ao conjunto da sociedade os benefícios diversos apontados nesse artigo. Segurança do trabalho não deve ser tratada como prioridade, mas sim como um valor intrínseco de qualquer empresa.


Autor:

MSc. Arnaldo da Costa Lage Neto

Engenheiro de Segurança do Trabalho | Professor credenciado da Escola SESI de Gestão em SST

 


Referências

Atlas. Manual de Legislação Atlas de Segurança e Medicina do Trabalho (2018). 81ª ed. São Paulo.

SENAC. Brasil é quarto país no ranking mundial de mortes por acidentes de trabalho. 2017. Disponível em:

http://www.al.senac.br/2017/12/brasil-e-quarto-pais-no-ranking-mundial-de-mortes-por-acidentes-de-trabalho/  

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