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Dor musculoesquelética e incapacidade
O que a dor pode nos dizer?
A dor pode ser uma resposta do organismo a alguma agressão pontual e passar assim que tudo ficar bem. Mas também pode ser uma manifestação persistente em que se torna mais difícil especificar as causas e tratar. Condição complexa, multicausal, que sofre influência de aspectos fisiopatológicos, interações psicológicas e culturais. Está associada a desgastes físicos e mentais. É uma vivência subjetiva, que só pode ser acessada indiretamente, por meio dos relatos dos indivíduos acometidos.
Definida pela Associação Internacional para o Estudo da Dor – IASP, como uma sensação e/ou experiência emocional desagradável associada à lesão tecidual, real ou potencial, ou descrita em termos desta. Considera-se dor crônica aquela que persiste para além do tempo esperado de recuperação, usualmente considerando um período superior a três meses. Tempo é um critério importante para caracterização da dor crônica musculoesquelética, e os especialistas apontam diferentes pareceres sobre essa duração. Outro aspecto relevante é haver sido tentado algum tratamento e mesmo assim a dor persistir (IASP, 1994).
O sistema musculoesquelético é formado pela junção de ossos e músculos, sendo responsável pela formatação, sustentação e funcionalidade do corpo humano. As desordens associadas a este sistema são frequentes na população em geral, e estão relacionadas fatores econômicos e demográficos, estilo de vida urbano sedentário, obesidade, fumo, posturas viciosas durante o trabalho, aumento da sobrevida média da população, dentre outros (TEIXEIRA et al, 2001; WENDT et al, 2017).
A intensidade dor musculoesquelética é apontada como um fator importante na determinação da incapacidade, termo genérico para comprometimento, limitação de atividade e restrição de participação. Tal condição limita a realização de atividades habituais, o que inclui as tarefas laborais. A alta prevalência deste agravo é observada na prática clínica. Lesão anterior, gravidade da lesão, ocupações que envolvam a manutenção de posturas inadequadas ou que exigem tarefas repetitivas, e de alta intensidade, são considerados fatores de risco (JELLAD et al, 2013).
A dor musculoesquelética está relacionada ao presenteísmo, condição que indica que o trabalhador não se sente em condições de executar a tarefa para a qual foi designado, afastamentos de curto e longo prazo, além de aposentadorias precoces. No Brasil, a dor lombar, os transtornos do disco intervertebral e a osteoatrose do joelho são a primeira, a terceira e a sexta maiores causas de aposentadoria, respectivamente (WENDT et al, 2017; MEZIAT et al, 2011).
A dor é uma condição singular que sofre interferências demográficas, psicossociais e profissionais. Baseia-se na percepção que o indivíduo traz sobre sua condição, no conhecimento sobre seu corpo e na sua funcionalidade. As condições clínicas, a intensidade do sofrimento e a interferência nas atividades habituais, são características que definem a necessidade de busca por tratamento desta condição. Manter o sistema musculoesquelético saudável é uma tarefa essencial para a diminuição de casos de dor crônica, e requer a adoção de novos comportamentos. A análise e o adequado dimensionamento, bem como a investigação dos determinantes, são relevantes para constituir medidas que possam intervir sobre o problema.
Autores
Ana Cássia Baião de Miranda
Fisioterapeuta | Professora credenciada da Escola SESI de Gestão em SST | Consultor credenciado do Centro de Inovação do SESI em Prevenção da Incapacidade
Lívia Maria Aragão de Almeida Lacerda
Coordenadora do Centro de Inovação em Prevenção de Incapacidade do Serviço Social da Indústria (SESI) | Professora da Escola SESI de Gestão em SST | Médica | Epidemiologista | Mestre em Planejamento e Gestão da Saúde pelo Instituto de Saúde Coletiva da UFBa.
Newton A. Novis Figueiredo
Médico do trabalho | Professor credenciado da Escola SESI de Gestão em SST | Consultor credenciado do Centro de Inovação do SESI em Prevenção da Incapacidade
Referências
JELLAD A; LAJILI H; BOUDOKHANE S; MIGAOU H; MAATALLAH S; FRIH Z.B.S. Musculoskeletal disorders among Tunisian hospital staff: Prevalence and risk factors. The Egyptian Rheumatologist. 2013; 35(2): 59-63.
MERSKEY, H., BOGDUK, N. Classification of chronic pain: descriptions of chronic pain syndromes and fefinitions of paian Terms. Seattle, IASP Press, 1994.
MEZIAT FILHO N; MENDONÇA G.A.S. Invalidez por dor nas costas entre os segurados da Previdência Social, Brasil, 2007 Revista de Saúde Pública. 2011; 45: 494-502.
TEIXEIRA, M.J., TEIXEIRA, W.G.J., SANTOS, F.P.S., ANDRADE, D.C.A., BEZERRA, S.L., FIGUEIRÓ, J.B., OKADA, M. Epidemiologia clínica da dor músculo-esquelética. Rev. Med. (São Paulo), 80(ed. esp. pt.1):1-21, 2001.
WENDT A.S; CHAVES A.O; URTADO C.B; MACEDO A.R; REIS F.J.J; NOGUEIRA L.A.C. Funcionalidade e incapacidade em pacientes comprometimento musculoesquelético. R. bras. Ci. e Mov 2017;25(4):15-22.
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