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Uso de ferramentas na avaliação da capacidade laboral
A incapacidade para o trabalho abrange o absenteísmo e o presenteísmo originados de problemas de saúde tanto traumáticos como não traumáticos. Sob o ponto de vista prático, estes problemas se mostram através das faltas ao trabalho, redução da produtividade ou trabalhador com limitações funcionais. Segundo a Classificação Internacional de Funcionalidade, Incapacidade e Saúde – CIF, a incapacidade está associada a “atividade limitada” que é a dificuldade que um trabalhador tem na execução de suas tarefas e as “restrições na participação”, que são relacionadas aos problemas vivenciados pelo indivíduo em situações da vida e/ou trabalho (DURAND et al, 2013, WHO, 2001).
Nas últimas décadas várias ferramentas têm sido propostas para avaliar a redução da capacidade produtiva de trabalhadores com queixas, lesões ou doenças. Algumas têm sido aplicadas para avaliar fatores pessoais específicos tais como dor, estresse, qualidade de vida, dentre outros; e outras para avaliar os fatores ambientais tais como os organizacionais, as relações sociais, a performance e as características laborais. Mais recentemente, estudos tem focado em instrumentos que avaliam a interação entre os fatores pessoais e ambientais (DURAND et al, 2013).
Nesta perspectiva, citamos o Sistema de Classificação por Bandeiras que identifica sinais precoce de risco de incapacidade para o trabalho. Este sistema explora aspectos clínicos dos indivíduos (bandeiras: vermelha e laranja) e fatores psicossociais (bandeiras: amarela, azul e preta) que impedem os trabalhadores de estarem ativos e influenciam a incapacidade e sua manutenção (KENDALL et al, 1997; 2009; SHAW et al 2008).
Muitas vezes avaliação da capacidade para o trabalho requer a utilização de ferramentas de análise e investigação mais específicas que facilitam a identificação de barreiras para a manutenção da incapacidade e facilitadores que apoiam no retorno e permanência no trabalho, como o Self-Reporting Questionnaire 20 - SRQ 20/BR. Ferramenta autoaplicável, rápida e com alto poder de discriminação de casos de transtornos mentais comuns. É indicada pela Organização Mundial de Saúde – OMS para estudos comunitários e na atenção primária a saúde, principalmente nos países em desenvolvimento, por preencher os critérios de facilidade de uso e custo reduzido (SANTOS et al, 2010).
Outro exemplo, é o Örebro Musculoskeletal Pain Screening Questionnaire - ÖMPSQ/BR, que visa identificar indivíduos em risco de desenvolver sintomas crônicos relacionados a fatores psicossociais, principalmente aqueles que apresentam dor lombar. Instrumento curto, com apenas 10 questões, que classifica os indivíduos com base no grau de risco de dor crônica e incapacidade associada à fatores psicossociais. Da mesma forma, o Work Role Functioning Questionnaire WRFQ/BR, com resultado satisfatório de confiabilidade e validade, surge como uma alternativa para avaliar se a capacidade para o trabalho está alterada devido a problemas de saúde, relacionados a afecções crônicas, causando impactos ou limitações nas atividades diárias (FAGUNDES et al, 2015; GALLASCH, 2007).
Por fim, citamos o Work Disability Diagnosis Interview - WoDDI/BR, ferramenta com formato de entrevista estruturada, com perguntas relacionadas a fatores físicos, psicossociais, ocupacionais e administrativos, que estão distribuídas em 10 dimensões. Contribuem na detecção de fatores preditivos de maior importância para a incapacidade relacionada ao trabalho, e para identificar uma ou mais causas de ausência prolongada, auxiliando na elaboração do plano de retorno ao trabalho (MININEL, 2010).
No processo de escolha de uma ferramenta para a avaliação da incapacidade laboral é necessário considerar os diversos fatores que permeiam o mundo do trabalho, não só os aspectos físicos e psicossociais, mas todo o contexto envolvendo o ambiente organizacional. Assim, é importante saber que não existe uma ferramenta ideal disponível para abranger toda a complexidade da incapacidade para o trabalho, e que considere todas as perspectivas das partes interessadas na avaliação. A escolha de uma ou mais ferramentas dependerá do que se quer identificar e avaliar no momento.
Autores
Ana Cássia Baião de Miranda
Fisioterapeuta | Professora credenciada da Escola SESI de Gestão em SST | Consultor credenciado do Centro de Inovação do SESI em Prevenção da Incapacidade
Lívia Maria Aragão de Almeida Lacerda
Coordenadora do Centro de Inovação em Prevenção de Incapacidade do Serviço Social da Indústria (SESI) | Professora da Escola SESI de Gestão em SST | Médica | Epidemiologista | Mestre em Planejamento e Gestão da Saúde pelo Instituto de Saúde Coletiva da UFBa.
Newton A. Novis Figueiredo
Médico do trabalho | Professor credenciado da Escola SESI de Gestão em SST | Consultor credenciado do Centro de Inovação do SESI em Prevenção da Incapacidade
Referências
DURAND M-J.; HONG Q.N.; Tools for Assessing Work Disability. In: Handbook of Work Disability: prevention and management. Chapter 15, p. 229-247. Springer, New York, 2013.
FAGUNDES F. R. C., FUHRO F. F., MANZONI A. C. T., OLIVEIRA N. T. B., CABRAL C. M. N., Örebro Questionnaire: short and long forms of the Brazilian-Portuguese version. Qual Life Res 24:2777–2788, 2015.
GALLASCH, C.H.; ALEXANDRE N.M.C.; AMICK B.C. III. Cross-cultural adaptation, reliability, and validity of the work role functioning questionnaire to Brazilian Portuguese. Journal of Occupational Rehabilitation 17 (4), 701-711. 2007.
KENDALL N.A.; LINTON S.J.; MAIN C.J. Guide to Assessing Psychosocial Yellow Flags in Acute Low Back Pain: Risk Factors for Long-Term Disability and Work Loss. Wellington, New Zealand: Accident Rehabilitation and Compensation Insurance Corporation of New Zealand and the National Health Committee; 1997.
KENDALL, NICHOLAS A.S., BURTON, A. KIM, MAIN, CHRIS J. AND WATSON, PAUL. Tackling musculoskeletal problems: a guide for clinic and workplace - identifying obstacles using the psychosocial flags framework. The Stationery Office, London, 2009.
MININEL, V. A., Adaptação transcultural do Work Disdability Diagnosis Interview (WoDDI) para o contexto brasileiro – São Paulo, 2010.
SANTOS, K. O. B.; ARAÚJO, T. M.; PINHO, P. S.; SILVA, A. C. C. Avaliação de uma ferramenta de mensuração de morbidade psíquica: estudo de validação do self-reporting questionnaire (SRQ-20). Rev. baiana saúde pública;34(3), jul-set. 2010.
SHAW, W.S., VAN DER WINDT, D. A, MAIN, C.J., LOISEL, P., LINTON, S.J., Decade of the Flags Working Group. Early patient screening and intervention to address individual level Occupational Factors (“Blue Flags”) in Back Disability. J Occ Rehab. Published online 12/12/08. Springer Science & Business Media. LLC 2008.
ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DE SAÚDE. Classificação Internacional de Funcionalidade, Incapacidade e Saúde. 3º edição. 2003.
Disponível em: https://apps.who.int/iris/bitstream/handle/10665/42407/9788531407840_por.pdf;jsessionid=D60AAD4D4B6F118810065991FEBAB807?sequence=111, Acessado em: 01/02/2020
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